00:45 do dia 19/05/11.
Esse é o último post desse blog.
Vou começar a escrever aqui, em Bangkok, Tailândia, e terminar quando eu já
estiver em casa, em Fortaleza, Brasil.
É a minha última noite do outro
lugar do mundo nessa que pode não ter sido a “melhor” experiência da minha
vida, mas sem dúvida foi a mais desafiante e transformadora.
Em uma dessas noites do meu
“mini-mochilão” eu ouvi em um programa de TV aleatório, uma frase que fez todo
o sentido para mim nesse momento: “não reclame, não explique, seja”.
Seguindo esse preceito, nesse
último post, eu não vou lamentar o que deu errado nem falar das motivações que
me fizeram voltar... Muito melhor é celebrar as coisas incríveis que me
aconteceram nesses 4 meses e tirar uma bela lição disso tudo!
Afinal, quantas pessoas com 20
anos de idade tem a oportunidade de ir para o outro lado do mundo, imergir em
uma cultura COMPLETAMENTE diferente da sua, experimentar novas sensações,
sabores, sentimentos, aprendizados... Eu não tenho que reclamar... Eu só tenho
que agradecer por eu ter sido uma dessas pessoas!
Hoje, eu liguei para a minha mãe
e disse que não tinha conseguido comprar um presente pro meu irmão e escutei
uma das coisas mais lindas da minha vida: “isso não é importante, o importante
é que você chegue aqui”. Pra mim isso é a demonstração de carinho mais pura que
existe e você só percebe esse amor incondicional, que TODAS as pessoas na terra
sentem e recebem, quando se submete a uma experiência como essa.
O tipo de sentimento que eu
consegui perceber em realidades bem diferentes durante essa minha jornada. No caso de um australiano que dedica a sua
vida para dar dignidade a pessoas em outro país que não tem ninguém por elas, pessoas
que parecem ter sido esquecidas pelo homem e às vezes por Deus e até por elas
mesmas.
No caso de 5 jovens extremamente
competentes que poderiam está trabalhando em qualquer grande empresa em seus
países mas estão dedicando um ano da sua vida para encarar o desafio de manter
uma organização no mar de desorganização que é o Camboja.
No caso de cada pessoa desse país
que desde a hora que eu cheguei nunca me negaram um sorriso, nem uma ajuda. Que
apesar de viverem algumas das piores realidades que pode se viver nesse planeta
não perdem a coragem de correr atrás, de sobreviver e nunca, mas nunca mesmo
fecham a porta ou o coração para quem vem de fora.
E especialmente no caso dessa
família pequenininha, mas de um coração sem tamanho que sem nunca me pedir nada
em troca, sem nenhum motivo a não ser esse amor cuidou de mim nos momentos que
eu mais precisei. Me mostrou como a simplicidade é uma das qualidades mais
admiráveis que se pode ter e que felicidade vai muito além do que se tem e do
que se atinge na vida; no fim de tudo o que importa é construir afeto. Eu nunca
vou conseguir agradecer o que eles fizeram por mim, eles fizeram minha
experiência valer a pena e um dia eu os levo para conhecer o Brasil...
Os efeitos dessa experiência na
minha vida eu só vou conseguir dizer com clareza daqui a alguns meses, talvez
anos. Mas eu já consigo tirar algumas lições...
- Medo não é o oposto de coragem. Sério, eu descobri o quanto eu tô
ficando uma “adulta” medrosa, diferente de quando eu era piveta e me jogava no
mar, lutava com os meninos, andava de patins que nem uma doida. Agora, tudo me
apavora, perdi as contas de quantas vezes tive medo de comer alguma coisa, de
pegar alguma doença, de ser assaltada, de perder meus documentos, de vir um
monstro durante a noite e me devorar, do que eu ia encontrar quando chegasse
aqui, de não atender expectativas, do que eu vou encontrar quando voltar...Cada
um desses medos e dos milhões de outros que eu senti eu enfrentei e superei. E
eu sei que eu vou continuar sentindo milhares de outros medos durante a minha
vida, mas hoje eu sei que eu sou capaz de seguir em frente e não deixar que
medos virem bloqueios.
- A importância da espiritualidade. Tiveram momentos nessa viagem
onde eu me vi completamente sozinha, confusa e sem enxergar uma saída. Não
podia/queria voltar para casa, mas para onde eu olhava só havia problema eu não
conseguia ver nenhuma solução o que me deixava frustrada e me sentia muito mal.
Depois de 2 anos vendendo intercâmbio ver a minha própria experiência afundando
e a pressão de “ser uma agente de mudança” que na verdade não estava conseguindo
mudar nada me fazia afundar ainda mais. Meus amigos estavam do outro lado do
mundo e chorar minhas frustrações para o pessoal do time não ia ajudar muito.
Em momentos como esse de extrema solidão e confusão eu tive que confiar na
espiritualidade deixar que ela me guiasse e acreditar que tudo ia dar certo. Eu
sou de uma família que tem um lado espiritual muito forte, mas eu nunca me
envolvi, acreditava, mas era mais fácil não me envolver. Hoje eu posso dizer que eu devo o que eu sou
hoje a esses mestres espirituais que guiam a minha vida e me protegem. Aonde eu
vou tem alguém magicamente para me ajudar e to voltando para casa sã e salva
depois de 4 meses em um país em guerra, com uma das maiores mortalidades por
água contaminada do mundo e viajei vinte dias por 2 países, sozinha, sem nenhum
problema. Eu continuo não acreditando em
religiões, afinal são elas que queimam bruxas, explodem homens, tiram dinheiro
de pobres e dão comida às imagens enquanto tem milhões de crianças passando
fome na porta do lado, mas eu acredito sinceramente em uma força maior que move
o mundo e faz coisas boas acontecerem para quem pratica o bem e se deixa
conduzir por ele.
- Conhecer e aceitar os meus limites. Eu tenho duas opções, lutar
contra mim mesma, tentar mudar a todo custo e me adaptar aos padrões e
expectativas dos outros ou me conhecer e seguir a minha essência da melhor
maneira. Coisas que eu descobri sobre mim mesma: - eu sempre to no mínimo 5min
atrasada. – eu odeio pontos turísticos. – eu amo co-criação e trabalho em
equipe de verdade me inspira. – eu preciso me divertir no meu trabalho – eu
consigo comer planta o/ e adorar ^^ - se eu não tenho afinidade com um grupo de
pessoas é melhor ficar em casa do que tentar forçar um relacionamento, ou seja,
investir nos relacionamentos certos! – eu preciso morar em uma cidade do
litoral!!!! Que saudade do mar!
Tem mais um ponto, mas eu prefiro
escrever sobre ele em casa. Por enquanto vou me despedindo do meu intercâmbio,
totalmente grata por tudo o que me aconteceu de bom e de ruim. Por alguns
momentos eu pensei “o que eu to fazendo aqui” mas por outros muito mais
intensos e inesquecíveis eu pensei “caraca, obrigada vida por ter me trazido
até aqui”. Estou fazendo meu caminho de volta para casa, mas um dia eu volto e
espero ver o Camboja país a altura do seu povo. Fiquem com Deus e O-kum Tcharam
de todo o meu coração!