domingo, 4 de novembro de 2012


00:45 do dia 19/05/11.
Esse é o último post desse blog. Vou começar a escrever aqui, em Bangkok, Tailândia, e terminar quando eu já estiver em casa, em Fortaleza, Brasil.
É a minha última noite do outro lugar do mundo nessa que pode não ter sido a “melhor” experiência da minha vida, mas sem dúvida foi a mais desafiante e transformadora.
Em uma dessas noites do meu “mini-mochilão” eu ouvi em um programa de TV aleatório, uma frase que fez todo o sentido para mim nesse momento: “não reclame, não explique, seja”.
Seguindo esse preceito, nesse último post, eu não vou lamentar o que deu errado nem falar das motivações que me fizeram voltar... Muito melhor é celebrar as coisas incríveis que me aconteceram nesses 4 meses e tirar uma bela lição disso tudo!
Afinal, quantas pessoas com 20 anos de idade tem a oportunidade de ir para o outro lado do mundo, imergir em uma cultura COMPLETAMENTE diferente da sua, experimentar novas sensações, sabores, sentimentos, aprendizados... Eu não tenho que reclamar... Eu só tenho que agradecer por eu ter sido uma dessas pessoas!
Hoje, eu liguei para a minha mãe e disse que não tinha conseguido comprar um presente pro meu irmão e escutei uma das coisas mais lindas da minha vida: “isso não é importante, o importante é que você chegue aqui”. Pra mim isso é a demonstração de carinho mais pura que existe e você só percebe esse amor incondicional, que TODAS as pessoas na terra sentem e recebem, quando se submete a uma experiência como essa.
O tipo de sentimento que eu consegui perceber em realidades bem diferentes durante essa minha jornada.  No caso de um australiano que dedica a sua vida para dar dignidade a pessoas em outro país que não tem ninguém por elas, pessoas que parecem ter sido esquecidas pelo homem e às vezes por Deus e até por elas mesmas.
No caso de 5 jovens extremamente competentes que poderiam está trabalhando em qualquer grande empresa em seus países mas estão dedicando um ano da sua vida para encarar o desafio de manter uma organização no mar de desorganização que é o Camboja.
No caso de cada pessoa desse país que desde a hora que eu cheguei nunca me negaram um sorriso, nem uma ajuda. Que apesar de viverem algumas das piores realidades que pode se viver nesse planeta não perdem a coragem de correr atrás, de sobreviver e nunca, mas nunca mesmo fecham a porta ou o coração para quem vem de fora.
E especialmente no caso dessa família pequenininha, mas de um coração sem tamanho que sem nunca me pedir nada em troca, sem nenhum motivo a não ser esse amor cuidou de mim nos momentos que eu mais precisei. Me mostrou como a simplicidade é uma das qualidades mais admiráveis que se pode ter e que felicidade vai muito além do que se tem e do que se atinge na vida; no fim de tudo o que importa é construir afeto. Eu nunca vou conseguir agradecer o que eles fizeram por mim, eles fizeram minha experiência valer a pena e um dia eu os levo para conhecer o Brasil...
Os efeitos dessa experiência na minha vida eu só vou conseguir dizer com clareza daqui a alguns meses, talvez anos. Mas eu já consigo tirar algumas lições...
- Medo não é o oposto de coragem. Sério, eu descobri o quanto eu tô ficando uma “adulta” medrosa, diferente de quando eu era piveta e me jogava no mar, lutava com os meninos, andava de patins que nem uma doida. Agora, tudo me apavora, perdi as contas de quantas vezes tive medo de comer alguma coisa, de pegar alguma doença, de ser assaltada, de perder meus documentos, de vir um monstro durante a noite e me devorar, do que eu ia encontrar quando chegasse aqui, de não atender expectativas, do que eu vou encontrar quando voltar...Cada um desses medos e dos milhões de outros que eu senti eu enfrentei e superei. E eu sei que eu vou continuar sentindo milhares de outros medos durante a minha vida, mas hoje eu sei que eu sou capaz de seguir em frente e não deixar que medos virem bloqueios.
- A importância da espiritualidade. Tiveram momentos nessa viagem onde eu me vi completamente sozinha, confusa e sem enxergar uma saída. Não podia/queria voltar para casa, mas para onde eu olhava só havia problema eu não conseguia ver nenhuma solução o que me deixava frustrada e me sentia muito mal. Depois de 2 anos vendendo intercâmbio ver a minha própria experiência afundando e a pressão de “ser uma agente de mudança” que na verdade não estava conseguindo mudar nada me fazia afundar ainda mais. Meus amigos estavam do outro lado do mundo e chorar minhas frustrações para o pessoal do time não ia ajudar muito. Em momentos como esse de extrema solidão e confusão eu tive que confiar na espiritualidade deixar que ela me guiasse e acreditar que tudo ia dar certo. Eu sou de uma família que tem um lado espiritual muito forte, mas eu nunca me envolvi, acreditava, mas era mais fácil não me envolver.  Hoje eu posso dizer que eu devo o que eu sou hoje a esses mestres espirituais que guiam a minha vida e me protegem. Aonde eu vou tem alguém magicamente para me ajudar e to voltando para casa sã e salva depois de 4 meses em um país em guerra, com uma das maiores mortalidades por água contaminada do mundo e viajei vinte dias por 2 países, sozinha, sem nenhum problema.  Eu continuo não acreditando em religiões, afinal são elas que queimam bruxas, explodem homens, tiram dinheiro de pobres e dão comida às imagens enquanto tem milhões de crianças passando fome na porta do lado, mas eu acredito sinceramente em uma força maior que move o mundo e faz coisas boas acontecerem para quem pratica o bem e se deixa conduzir por ele.
- Conhecer e aceitar os meus limites. Eu tenho duas opções, lutar contra mim mesma, tentar mudar a todo custo e me adaptar aos padrões e expectativas dos outros ou me conhecer e seguir a minha essência da melhor maneira. Coisas que eu descobri sobre mim mesma: - eu sempre to no mínimo 5min atrasada. – eu odeio pontos turísticos. – eu amo co-criação e trabalho em equipe de verdade me inspira. – eu preciso me divertir no meu trabalho – eu consigo comer planta o/ e adorar ^^ - se eu não tenho afinidade com um grupo de pessoas é melhor ficar em casa do que tentar forçar um relacionamento, ou seja, investir nos relacionamentos certos! – eu preciso morar em uma cidade do litoral!!!! Que saudade do mar!
Tem mais um ponto, mas eu prefiro escrever sobre ele em casa. Por enquanto vou me despedindo do meu intercâmbio, totalmente grata por tudo o que me aconteceu de bom e de ruim. Por alguns momentos eu pensei “o que eu to fazendo aqui” mas por outros muito mais intensos e inesquecíveis eu pensei “caraca, obrigada vida por ter me trazido até aqui”. Estou fazendo meu caminho de volta para casa, mas um dia eu volto e espero ver o Camboja país a altura do seu povo. Fiquem com Deus e O-kum Tcharam de todo o meu coração!

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